Introdução


Introdução a Roteiros de Rádio


Aprecio bastante essas conversinhas no início dos livros. Na verdade, isso é uma grande mentira. O que acontece de fato é que você está batalhando para tentar terminar, ou ao menos começar, um livro que você prometeu entregar há sete meses e faxes começam a chegar perguntando se você poderia talvez escrever outra breve e curta introdução para um livro no qual você lembra claramente ter escrito “FIM” por volta de 1981. Não vai, promete o fax, levar mais do que dois minutinhos. Com toda certeza não vai levar dois minutinhos. Na verdade, demora por volta de treze horas e você perde outro jantar e a sua esposa não vai querer falar com você, e o livro fica tão atrasado que você começa a perder os acampamentos de férias no Pirineus inteiros e a sua esposa não vai mais conversar com você, principalmente porque o acampamento de férias fora uma ideia sua e não dela, e ela só iria porque você queria e agora ela tem que ir e fazer tudo sozinha quando você sabe perfeitamente bem que ela odeia acampar. (E eu também, a propósito. Estou inventando um pouco).
E então mais faxes chegam exigindo mais introduções, desta vez para edições antológicas de livros para os quais já escrevi introduções individuais anteriormente. Depois de um tempo descubro que já escrevi tantas introduções que alguém coleta todas elas e as compilam em um livro e me pedem para escrever uma introdução para ele. Então perco outro jantar e também uma viagem para mergulhar nos Açores e descubro que a razão da minha esposa não estar mais falando comigo é porque ela está agora casada com outra pessoa. (Estou inventando isso também, pelo menos até onde sei).
Na época em que eu conseguia ir a festas, em outras palavras, na época em que tinha escrito apenas alguns livros e o negócio de escrever introduções para eles ainda viria a se tornar uma atividade de período integral, eu costumava economizar muito do meu tempo quando descobria que dois de meus amigos não se conheciam apenas dizendo a eles:
‒ Este é o Pedro e esta é a Paula, por que vocês não se apresentam?
Isso geralmente funcionava fantasticamente bem e antes que viesse a ter conhecimento, Pedro e Paula já eram um casal feliz tirando férias juntos indo esquiar nos Alpes franceses com a minha esposa e o segundo marido dela.
Então. Caro leitor. Esta é a reedição de aniversário dos roteiros de rádio do Guia do Mochileiro das Galáxias. Por que vocês não se apresentam?
Gostei desse nosso papinho.

Introdução a The Original Hitchhicker Scripts,
Edição de décimo aniversário.
(Harmony Books, maio de 1995)

Palestra


Trecho de um palestra extemporânea realizada em Digital Biota 2, Cambridge.
Setembro de 1998.

Assistir no YouTube:  http://youtu.be/qaSWDNutQJA

Palestra



Trecho do livro Last Chance to See.
De Douglas Adams: Parrots, the Universe and Everything.
Maio de 2001.

Assistir no YouTube: http://youtu.be/1bdjptHqsKw

Receita


Chá

Um ou dois americanos me perguntaram por que os ingleses gostam tanto de chá, já que para eles nunca pareceu ser uma bebida muito boa. Para entender, deve-se prepará-lo de maneira adequada.
Há um princípio muito simples para o preparo do chá, e é o seguinte – para se conseguir o sabor peculiar do chá, a água precisa estar fervENDO (não fervIDA) quando ela atingir as folhas do chá. Se estiver apenas quente, então o chá ficará insípido. É por isso que nós ingleses temos esses rituais peculiares, como aquecer o bule primeiro (para que a água fervente não esfrie rapidamente conforme é despejada no bule). E é por isso que o hábito americano de se trazer à mesa uma xícara de chá, um saquinho de chá, e um recipiente de água quente é simplesmente a forma perfeita de se fazer uma xícara de chá aguada, pálida e rala, que ninguém em sã consciência ficaria com vontade de beber. Os americanos ficam todos abismados com o fato de os ingleses fazerem tanto caso por conta de uma xícara chá porque a maioria dos americanos NUNCA BEBEU UMA BOA XÍCARA DE CHÁ. É por isso que eles não entendem. Na verdade, a essência da questão é que a maior parte dos ingleses não sabe mais como fazer chá também, e a maioria das pessoas bebem café instantâneo barato ao invés disso, o que é uma pena, e dá aos americanos a impressão de que os ingleses basicamente não têm ideia do que são estimulantes quentes.
Então o melhor conselho que posso oferecer a um americano recém-chegado à Inglaterra é o seguinte: Vá ao Marks and Spencer e compre um pacote de chá Earl Grey. Volte para onde você está hospedado e ferva uma chaleira de água. Enquanto ela está esquentando, abra o pacote que está selado e dê uma bela fungada. Cuidado – você pode se sentir meio tonto, mas isso é na verdade perfeitamente legal. Quando a água da chaleira tiver fervido, despeje um pouco em um bule, rodopie-o, e destampe-o novamente. Coloque dois (ou três, dependendo do tamanho do recipiente) saquinhos de chá dentro do bule. (Se eu realmente estivesse tentando levá-los ao caminho da retidão, diria para usarem folhas soltas ao invés de saquinhos, mas vamos seguir apenas passos fáceis.) Leve a chaleira para ferver de novo, e então despeje a água fervendo o mais rápido que puder no bule. Deixe repousar por dois ou três minutos, e então despeje em uma xícara. Algumas pessoas dirão que não se deve tomar leite com Earl Grey, mas apenas colocar uma fatia de limão. Danem-se. Gosto com leite. Se acha que vai gostar com leite, então é provavelmente melhor colocar um pouco de leite no fundo da xícara antes de despejar o chá.* Se despejar o leite dentro da xícara de chá quente, vai escaldá-lo. Se acha que vai preferir com uma fatia de limão, então, bem, acrescente uma fatia de limão.
Beba. Depois de algum tempo você começará a achar que aquele lugar para o qual veio talvez não seja tão estranho e maluco afinal de contas.

12 de maio de 1999

*Isto é socialmente incorreto. A maneira socialmente correta de se despejar o chá é colocando o leite depois do chá. Tradicionalmente, estar correto socialmente não tem nada a ver com razão, lógica, ou física. Na verdade, na Inglaterra é geralmente considerado socialmente incorreto saber das coisas ou pensar nelas. É importante ter isso em mente quando fizer uma visita.

Crônica


Maggie e Trudie

Não estou, devo dizer logo de uma vez, envolvido em nenhum relacionamento formal com um cachorro. Não dou de comer a um cachorro, nem abrigo, não procuro canis para um quando vou viajar,  tampouco tiro piolho, nem mesmo providencio para que alguns de seus órgãos internos sejam removidos quando eles me aborrecem. Em resumo, não tenho um cachorro.
Por outro lado, tenho um relacionamento meio dissimulado, ilícito com um cachorro, ou melhor, duas cachorras. Por conseguinte, acho que sei um pouco como é ser uma amante.
As cachorras não moram na casa vizinha. Elas nem mesmo moram na mesma – bem, eu ia dizer rua e ia destrinchar aos poucos, mas vamos direto ao assunto. Elas moram em Santa Fé, Novo México, que é um baita dum lugar para um cachorro, na verdade para qualquer um, morar. Se você nunca visitou ou passou um tempo em Santa Fé, Novo México, então permita-me dizer o seguinte: você é um completo idiota. Eu mesmo era um completo idiota há até mais ou menos um ano quando uma combinação de circunstâncias, as quais não vou me preocupar em explicar, me levaram a pegar a casa de alguém emprestada bem no deserto ao norte de Santa Fé onde fui para escrever um roteiro. Para lhes dar uma ideia do tipo de lugar que é Santa Fé, eu poderia falar a vontade sobre o deserto, a altitude, a luz e as jóias de prata e turquesa, mas a melhor maneira é apenas mencionar um sinal de trânsito na auto-estrada para quem vem de Albuquerque. Ele afirma, em letras grandes, VENTOS TEMPESTUOSOS, e em letras menores, PODEM ACONTECER.
Eu nunca conheci os meus vizinhos. Eles moravam há mais ou menos um quilômetro de distância no topo da duna seguinte, mas assim que comecei a sair para minhas caminhadas matinais, uma corridinha, um passeio suave, conheci as suas cachorras. Elas ficaram instantaneamente e delirantemente felizes em me ver que imaginei que elas deviam pensar que já havíamos nos encontrado em uma vida anterior (Shirley Maclaine morava nas redondezas e elas devem ter adquirido todo os tipos de ideias estranhas só por estarem perto dela).
Seus nomes eram Maggie e Trudie. Trudie era uma cachorra de aparência excepcionalmente boba, um poodle francês preto e grande que se movia exatamente como se fora animado por Walt Disney: um tipo de saltitar que era enfatizado por suas orelhas grandes e desajeitadas na extremidade frontal e um rabo curto e atarracado com um pouco de trabalho topiário na extremidade. Seu pêlo consistia de um emaranhado de cachos negros bem enrolados, que se uniam ao efeito Disney de ser, fazendo parecer com que ela fosse completamente desprovida de partes pudendas. A maneira de indicar, toda manhã, que estava delirantemente feliz em me ver era fazendo algo que eu sempre pensei que fosse chamado “exibicionismo”, mas que na verdade era chamado “saltitar”. (Acabei de descobrir o meu erro, e vou ter que repetir grandes partes da minha vida em minha mente para ver em que tipo de confusão posso ter me envolvido ou causado.) “Saltitar” é pular para cima com suas quatro patas simultaneamente. Um conselho: não morra até ter visto um poodle preto e grande saltitando na neve.
A maneira da Maggie indicar, toda manhã, que estava delirantemente feliz em me ver era mordendo Trudie no pescoço. Também era a maneira dela indicar que estava delirantemente animada com a possibilidade de sair para passear, de demonstrar que estava passeando e gostando muito, de mostrar que queria ficar em casa, era também a maneira dela indicar que queria ficar fora de casa. Morder Trudie no pescoço repetidamente e de forma brincalhona era, em resumo, sua maneira de viver.
Maggie era uma cachorra bonita. Ela não era um poodle, e na verdade o tipo de raça de cachorro que ela era estava insistentemente na ponta da minha língua. Não sou muito bom com raças de cachorro, mas Maggie era uma das mais clássicas, óbvias: algo como uma espécie de beagle grande, vagamente parecida com um retriever, lustrosa, preta e marrom. Como eles são chamados? Labradores? Spaniels? Elkhounds? Samoiedas? Perguntei ao meu amigo Michael, um produtor de filmes, uma vez que senti que o conhecia bem o suficiente para admitir que não conseguia resolver o problema do tipo de raça de cachorro que a Maggie era, apesar do fato de ser tão óbvio.
– A Maggie – ele me disse com seu sotaque texano arrastado, sério e vagaroso, – é uma vira-lata.
Então, toda manhã partíamos os três: eu, o escritor inglês grandão, Trudie, a poodle e Maggie, a vira-lata. Eu corria, troteava e andava pelo caminho amplo e sujo que atravessava as dunas vermelhas e secas, Trudie saltitando brincalhona, por aqui e por ali, orelhas abanando, e Maggie rolando alegremente, mordendo o seu pescoço. Trudie era de extrema boa índole e há muito sofria por conta disso, mas ocasionalmente ela, de repente, ficava de saco cheio. Nesse momento ela executava uma repentina pirueta no ar, pousava exatamente em pé encarando Maggie e lhe dava um olhar extremamente penetrante, com o qual Maggie subitamente sentava-se e começava a morder gentilmente sua própria pata traseira direita como se estivesse de saco cheio da Trudie de qualquer maneira mesmo.
Então elas começavam tudo novamente e saíam correndo, rolando e dando cambalhotas, caçando e mordendo, por todas as dunas, pelas gramas baixas e vegetação rasteira, e então ocasionalmente, de modo repentino e inexplicável, paravam como se tivessem ambas, simultaneamente, ficado sem movimentos. Elas então fitavam o vazio de forma embaraçosa por um tempo antes de começarem tudo novamente.
E qual era o meu papel nisso tudo? Bem, nenhum na verdade. Elas me ignoravam completamente por todo os vinte ou trinta minutos seguintes. O que era perfeitamente normal, claro, eu não me importava. Mas isso me deixou intrigado, porque toda manhã bem cedo elas vinham latindo e arranhando as portas e janelas da minha casa até que eu me levantasse e as levasse para passear. Se algo perturbasse esse ritual diário, caso eu tivesse de dirigir até a cidade, ou tivesse uma reunião, ou viajasse para a Inglaterra, ou algo assim, elas ficavam completamente devastadas e simplesmente não sabiam o que fazer. Apesar do fato de sempre me ignorarem totalmente quando íamos para nossos passeios juntos, elas simplesmente não conseguiam ir passear sem mim. Isso se revelou uma tendência filosófica profunda nessas cachorras que não eram minhas, pois elas tinham concluído que eu tinha que estar lá para que elas pudessem me ignorar devidamente. Não se pode ignorar alguém que não está lá, porque não é isso que “ignorar” significa.
Maiores profundidades de seus pensamentos foram revelados quando a namorada de Michael, Victoria, me disse que uma vez, quando fora me visitar, ela tentara jogar uma bola para que Maggie e Trudie fossem pegar. As cachorras se sentaram e assistiram paralisadas conforme a bola subia no céu, caía e finalmente quicava pelo chão até parar. Ela disse que a mensagem que ela havia captado delas era: “Nós não fazemos isso. Nós passeamos com escritores”.
O que era verdade. Elas passeavam comigo o dia todo, todos os dias. Mas, exatamente como os escritores, cachorros que passeiam com escritores não gostam nada de escrever. Então elas ficavam rodeando os meus pés o dia inteiro e empurrando meu cotovelo para fora do lugar enquanto eu estava digitando para que elas pudessem descansar os seus queixos no meu colo, e olhavam fixamente e pesarosamente para mim na esperança de que eu entendesse a razão e saísse para passear e, dessa forma, elas poderiam me ignorar adequadamente.
E então, à noite, elas se mandavam para suas casas verdadeiras para serem alimentadas, beberem água e irem para cama dormir. O que para mim parecia um acordo agradável, pois eu tinha todo o prazer da companhia delas, que era considerável, sem ter qualquer responsabilidade por elas. E continou sendo um acordo agradável até o dia em que Maggie apareceu toda contente cedo pela manhã pronta e ansiosa para me ignorar sozinha. Sem a Trudie. Trudie não estava com ela. Fiquei desnorteado. Não sabia o que tinha acontecido com a Trudie e não tinha como descobrir, afinal ela não era minha. Teria ela sido atropelada por um caminhão? Estaria ela deitada em algum lugar, sangrando na beira da estrada? Maggie parecia inquieta e preocupada. Ela deveria saber onde a Trudie estava, pensei, e o que tinha acontecido com ela. Era melhor segui-la, como à Lassie. Coloquei os meus sapatos e me apressei. Andamos por quilômetros, percorendo todo o deserto procurando por Trudie, seguindo os caminhos mais sinuosos. De repente percebi que Maggie não estava procurando por Trudie coisa nenhuma, ela estava apenas me ignorando, um estratégia que eu estava complicando ao tentar segui-la o tempo todo ao invés de apenas seguir a minha rota normal de caminhada matutina. Então, por fim, retornei pra casa e Maggie sentou-se aos meus pés e se entediou. Não havia nada que eu pudesse fazer, ninguém para quem eu pudesse ligar, porque a Trudie não pertencia a mim. Tudo o que eu podia fazer, como uma amante, era me sentar e me preocupar em silêncio. Fiquei sem apetite. Depois que a Maggie foi embora para casa aquela noite, dormi muito mal.
E pela manhã elas estavam de volta. As duas. Apenas algo terrível tinha acontecido. Trudie tinha sido tosada. A maior parte de seu pêlo fora aparado para apenas uns dois milímetros de altura, com alguns tufos topiários na sua cabeça, orelhas e rabo. Fiquei indignado. Ela estava ridícula. Saímos para passear e eu fiquei envergonhado, de verdade. Ela não estaria com essa aparência se fosse minha cachorra.
Alguns dias depois tive que voltar para a Inglaterra. Tentei explicar isso às cachorras, prepará-las, mas elas estavam em estado de negação. De manhã eu saí, elas me viram colocar as malas na traseira da caminhonete e mantiveram distância, estavam tremendamente interessadas em um outro cachorro ao invés disso. Realmente me ignorando. Voei para casa me sentindo estranho.
Seis semanas depois, voltei para trabalhar em um segundo rascunho. Não era apenas chamar e as cachorras apareceriam. Eu tinha que dar voltas no quintal dos fundos, de maneira totalmente óbvia e fazendo todos os tipos de barulhos agudos como aqueles que apenas os cachorros estão habituados a perceber. De repente, elas captaram a mensagem e correram através do deserto coberto de neve para me ver (era meados de Janeiro então). Assim que chegaram, se atiravam repetidas vezes nas paredes de alegria, e então não havia muito mais o que pudéssemos fazer a não ser sair para uma ignorada saudável e cintilante na neve. Trudie saltitava, Maggie a mordia no pescoço, e eu andava. E três semanas mais tarde fui embora novamente. Voltarei de novo para vê-las em algum momento deste ano, mas percebo que sou um Outro Ser Humano. Cedo ou tarde terei que me comprometer com um cachorro que seja meu.

Animal Passions (ed. Alan Coren; Robson
Books; Setembro de 1994).

Crônica

Meu Nariz


Minha mãe tem um nariz comprido e meu pai um nariz largo, o meu é a combinação de ambos. É grande. A única pessoa que conheci com um nariz consideravelmente maior do que o meu foi um professor do ensino médio, que também tinha olhos minúsculos, era praticamente sem queixo e ridiculamente magro. Lembrava o cruzamento de um flamingo e um instrumento agrícola antiquado e andava meio sem firmeza quando batia um vento contrário. Ele também se escondia bastante.
Eu queria me esconder também. Quando garoto, fui caçoado sem piedade alguma a respeito do meu nariz por anos até que um dia, por acaso, avistei meu perfil em um par de espelhos paralelos e tive que admitir que ele era, na verdade, bem engraçado. A partir daquele momento, as pessoas pararam de me importunar em relação ao meu nariz, e ao invés começaram a me provocar sem dó alguma por conta de eu dizer coisas como “na verdade”, algo que nunca deu uma trégua sequer até os dias de hoje.
Uma das características mais curiosas sobre o meu nariz é que ele não permite a entrada de ar algum. Algo difícil de entender ou até mesmo acreditar. Este problema nos leva de volta há muito tempo quando eu era um garotinho morando na casa da minha avó. Minha avó era a representante local do RSPCA*, o que significava que a casa estava sempre cheia de cachorros e gatos seriamente machucados, e até mesmo os menos comuns como texugos, furões, ou pombos.
Alguns estavam feridos fisicamente, outros psicologicamente, mas o efeito que eles provocaram em mim foi danificar seriamente minha capacidade de concentração. Por causa do ar espesso de pele de animal e poeira, meu nariz ficava inflamado e escorrendo ininterruptamente, e a cada quinze segundos eu espirrava. Qualquer pensamento que eu não conseguisse explorar, desenvolver, ou chegar a alguma conclusão lógica dentro de quinze segundos seria então forçosamente expelido da minha cabeça, junto com grande quantidade de muco.
Há aqueles que dizem que tendo a pensar e escrever em frases curtas, e se há alguma verdade nessa crítica, então foi quase certamente enquanto morava com minha avó que o hábito se desenvolvera.
Eu escapei da casa da minha avó indo para o internato, onde pela primeira vez na minha vida consegui respirar. Essa abençoada liberdade recém descoberta perdurou por boas duas semanas, até que tive de aprender a jogar rugby. Por volta dos primeiros cinco minutos da primeira partida que joguei, consegui quebrar o nariz no meu próprio joelho, o que embora tenha sido um feito claramente extraordinário, teve o mesmo efeito em mim que aquelas sublevações geológicas tiveram em civilizações inteiras nos romances de Rider Haggard – isto efetivamente me isolou do mundo lá fora para sempre.
Vários especialistas em otorrinolaringologia, em épocas diferentes, embarcaram em grandes expedições espeleológicas em minhas vias nasais, mas a maioria voltou perplexa. Aqueles que não retornaram perplexos, simplesmente não retornaram, e são, conseqüentemente, agora parte do problema ao invés da solução.
A única coisa que me deixou tentado a provar cocaína era o horrendo aviso de que a coisa corroia o seu septo. Seu eu achasse que a cocaína poderia na verdade achar um caminho pelo meu septo, eu alegremente enfiaria baldes de cocaína no nariz e deixaria que ela corroesse o quanto quisesse. Fui dissuadido, entretanto, pelas observações de amigos que literalmente enfiaram cocaína aos baldes nas narinas e que têm capacidade de concentração ainda menores que as minhas.
Então, agora estou mais conformado com o fato de que meu nariz é decorativo ao invés de funcional. Como o Telescópio Espacial Hubble, ele representa uma incrível proeza da engenharia, mas não serve para nada, exceto talvez para causar algumas risadas fáceis.

Esquire, Verão de 1991

N.T.: The Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals – Principal órgão do Reino Unido de proteção aos animais.

Resenha

The Meaning of Liff* ganhou vida como um exercício de inglês que tive de fazer na escola e que então, quinze anos mais tarde, fora transformado numa brincadeira por John Lloyd e eu. Estávamos sentados com alguns amigos em um restaurante grego, brincando de criar charadas e bebendo retsina a tarde toda, até que fora preciso achar um passatempo que não exigisse que levantássemos muitas vezes.

Era simplesmente o seguinte (precisava ser simples, a tarde já se entendia bastante para regras complicadas): alguém diria o nome de uma cidade e uma outra pessoa diria o que a palavra significava. Era necessário que a pessoa tivesse estado lá.

Rapidamente descobrimos que havia um número terrivelmente grande de experiências, ideias e situações que todos sabíamos e reconhecíamos, mas que nunca antes haviam sido propriamente identificadas porque não existiam palavras para elas. Eram todas do tipo “Já esteve em uma situação em que...”, ou “Sabe aquela sensação que se tem quando...”, ou então “Cara, sempre pensei que isso só acontecesse comigo...”. O que é preciso na verdade é uma palavra, e a coisa é assim identificada.

Então, aquela sensação vagamente desconfortável que se tem quando se senta em um banco que ainda está quentinho por conta do traseiro de alguém é uma sensação tão real quanto aquela que se sente quando um elefante brincalhão gigante sai do meio de um arbusto e lhe ataca, mas que até então apenas a última tinha uma palavra para tal. Agora ambas têm verbetes. A primeira é “shoeburyness”, e a segunda é, claramente, “medo”.

Começamos a coletar cada vez mais dessas palavras e conceitos, e começamos a perceber quão arbitrário é o trabalho seletivo do Oxford English Dictionary. Este simplesmente não reconhece imensos fragmentos de experiência humana. Como, por exemplo, quando ficamos parados na cozinha tentando lembrar porque fomos até lá. Todo mundo faz isso, mas como não há – ou havia – uma palavra para tal, todos acham que é algo que apenas eles fazem e que, por conseguinte, são mais estúpidos dos que as demais pessoas. É reconfortante perceber que todo mundo é tão estúpido quanto você e que tudo que estamos fazendo quando ficamos parados na cozinha imaginado o porquê de termos ido até lá é simplesmente “woking”.

Gradualmente, pequenos montes de fichas com esses verbetes começaram a crescer dentro da última gaveta de John Lloyd, e qualquer pessoa que ouvisse sobre esses acrescentaria seus próprios conceitos.

Elas viram a luz do dia pela primeira vez quando John Lloyd estava organizando o calendário Not 1982, e estava empenhado na procura por coisas para colocar no rodapé das páginas (e também nos cabeçalhos e algumas nos meios). Ele revirou a gaveta, escolheu mais ou menos uma dúzia dos melhores verbetes e os inseriu no livro intitulado Oxtail English Dictionary. Rapidamente tornou-se um dos exemplares mais populares do Not 1982, e o sucesso da idéia nessa escala pequena sugeriu a possibilidade de um livro dedicado a isso – e eis o livro: The Mening of Liff, o produto de um trabalho duro de uma vida inteira estudando e relatando o comportamento humano.


De Pan Promotion 54,
Outubro de 1983.


*The Meaning of Liff e seu sucessor, The Deeper Meaning of Liff, são livros de co-autoria de Douglas Adams e John Lloyd.

Introdução

Introdução de Comic Books #1


As pessoas com freqüência me perguntam de onde tiro as minhas ideias, às vezes tão freqüentemente quanto oitenta e sete vezes por dia. Esse é um risco bem conhecido pelos escritores, e a resposta correta para a questão é primeiramente respirar bem fundo, normalizar seus batimentos cardíacos, preencher sua mente com imagens calmas e tranqüilas do cantar dos pássaros e botões de ouro nos campos na primavera, e então tentar dizer, “Bem, interessante você ter perguntado isso...” antes de começar a chorar e soluçar incontrolavelmente.
O fato é que eu não sei de onde as ideias vêm, nem mesmo onde procurá-las. Tampouco qualquer outro escritor. Isso não é bem verdade, na verdade. Se você estivesse escrevendo um livro sobre os hábitos de acasalamento dos porcos, você provavelmente colheria algumas boas ideias se passasse um tempo num chiqueiro vestindo uma capa de chuva de plástico, mas se a sua área é a ficção, então a única resposta verdadeira é beber muito café e comprar uma escrivaninha que não se espedace quando você bater com sua cabeça nela.
Eu exagerei, é claro. Esse é meu trabalho. Há algumas ideias específicas das quais eu me lembro exatamente de onde vieram. Pelo menos eu acho que me lembro; talvez eu esteja apenas inventando isso. Isso também é parte do meu trabalho. Quando eu tenho que escrever um trabalho bem longo, freqüentemente eu escuto a mesma música várias e repetidas vezes. Não enquanto estou escrevendo de verdade, é claro, para isso é necessário que tudo esteja bastante silencioso, mas enquanto estou buscando outra xícara de café ou fazendo algumas torradas ou polindo meus óculos ou tentando achar mais cartuchos para a impressora ou trocando as cordas do meu violão ou removendo as xícaras de café e migalhas de torradas da minha escrivaninha ou indo ao banheiro para sentar e pensar por meia hora – em outras palavras, a maior parte do dia. O resultado é que muitas das minhas ideias vêm de músicas. Bom, pelo menos uma ou duas. Para ser bem exato, há apenas uma ideia que veio de uma música, mas eu continuo com esse hábito para o caso de ele funcionar de novo, o que não vai acontecer, mas quem se importa.
Agora você sabe como funciona. Simples, não é?

De O Guia do Mochileiro das Galáxias
(edição de colecionador), DC Comics,
Maio de 1997.

Pensamento

Quais os benefícios de se comunicar com os seus fãs por e-mail?
 
É mais rápido, mais fácil e requer menos lambidas.

Carta

Caro editor,
O suor escorria pelo rosto e pingava sobre o meu colo, deixando minhas roupas muito molhadas e grudentas. Eu ora sentado ali, ora caminhando, observando. Tremia absurdamente enquanto me sentava, olhando para aquela caixinha, esperando – sempre esperando. Unhas cravadas na própria carne enquanto cerrava os punhos. Passei o braço sobre meu rosto quente e molhado, que pingava de suor. O suspense era insuportável. Mordia os lábios na tentativa de que eles parassem de tremer por conta do terrível fardo da ansiedade. Repentinamente, a caixinha de correios na porta se abriu e dela caiu uma correspondência. Agarrei meu Eagle e rasguei todo o papel da embalagem.
Minha agonia havia acabado por mais uma semana!

D. N. Adams (12), Brentwood, Essex,
23 de janeiro de 1965
Eagle and Boys' World Magazine

[Nota do Editor: Nos anos sessenta, The Eagle era uma revista de ficção científica inglesa de enorme sucesso. Esta carta é a primeira obra conhecida publicada de Douglas Adams, na época com doze anos de idade.]

Entrevista

Entrevista cedida ao site Virgin.net


Se existe um homem que conhece uma coisinha ou outra sobre viagens, deve ser o cara que comeu hambúrgueres e fritas no restaurante no fim do universo. Encontramos o autor Douglas Adams em sua nova residência nos Estados Unidos, para onde se mudara recentemente para as filmagens de O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Qual a sua melhor lembrança de férias na infância?

Minhas férias quando criança foram bem modestas – o auge foi aos seis anos de idade, quando passei quinze dias em Isle of Wight. Lembro-me de ter pegado o que achava ser uma solha, embora ela tivesse o tamanho de um selo de cartas, e de sua morte logo após adotá-la como animal de estimação.

Desde a sua infância, você chegou a voltar lá?

Acho que voltei para Isle of Wight uma vez só. Fiquei em um hotel cuja diversão das noites era apagarmos as luzes do restaurante e ficarmos assistindo uma família de texugos brincando no gramado.

Para onde você foi na primeira vez que tirou férias sem os seus pais?

Fiz um mochilão pela Europa com dezoito anos de idade.

O que fez por lá?

Fui para Áustria, Itália, Iugoslávia e Turquia, sempre ficando em albergues para jovens e acampamentos, e suprindo minha dieta indo a passeios gratuitos pelas cervejarias. Istambul foi sem dúvida incrível, mas acabei com uma intoxicação alimentar e tive que voltar para Inglaterra de trem, dormindo no corredor próximo ao banheiro. Ah, bons tempos...

E você voltou lá?

Voltei à Istambul mais uma vez. Estava voltando de uma viagem da Austrália e, arbitrariamente, decidi descer em Istambul no caminho de volta. Mas pegar um táxi no aeroporto e ficar em um bom hotel, ao invés de pegar carona na traseira de um caminhão e dormir no quarto dos fundos de uma pensão barata, de certa maneira roubaram toda aquela magia. Fiquei andando pela cidade uns dois dias, tentando me livrar dos vendedores de tapetes e então fui embora.

Qual o lugar mais remoto, ou bizarro, onde já foi parar?

A Ilha da Páscoa é, com toda certeza, o lugar mais remoto da Terra, famoso por estar mais distante de qualquer lugar do que qualquer outro lugar. E é por isso que é estranho que eu tenha ido parar lá por acaso e por apenas uma hora. Aprendi uma lição muito importante com isso, que era – leia seu bilhete de viagem.

Quando esteve lá e por que?

Eu viajara de Santiago para Sidney e estava um pouco cansado – tinha passado as duas semanas anteriores procurando por focas – e não tinha me atentado para o itinerário do avião, até o momento que o piloto mencionou que iríamos fazer uma parada de uma hora na Ilha de Páscoa.
Havia uma pequena frota de microônibus no aeroporto que levava as pessoas para dar uma olhada rápida na estátua mais próxima enquanto o avião reabastecia. Foi muito frustrante porque se eu tivesse prestado atenção nisso um dia antes, poderia facilmente ter trocado minha passagem e ficado lá por mais uns dois dias.

Qual sua cidade favorita? O que mais te fascina nela?

No meu imaginário, é Florence, mas apenas por conta das lembranças das viagens que fiz para lá quando era estudante e os dias que passei de completo êxtase sob o sol, vinho barato, e arte. Visitas mais recentes cobriram aquelas lembranças do passado com congestionamentos e fumaça.
Hoje, acho que diria que minha cidade favorita é uma pequena cidade – Santa Fé, no Novo México. Amo o ar do alto deserto, as margaritas e o guacamole, as fivelas de prata dos cintos e a sensação de que as pessoas sentadas na mesa ao seu lado no café são provavelmente vencedoras do prêmio Nobel.

Qual foi a última vez que você fez um mochilão?

Há cerca de 10 anos, na ilha de Rodrigues, no Oceano Índico. Pegar carona era a única maneira de se locomover pela ilha. Não havia transporte público, porém algumas poucas pessoas possuíam Land Rovers, então era rezar para que elas passassem. Acabei indo parar em uma floresta, de madrugada, vestindo bermudas, porém tinha deixado meu repelente de mosquitos para trás. Resultado: passei a noite mais agoniante da minha vida.

Qual foi o seu lugar favorito enquanto estava na estrada em Last Chance to See?

Madagascar – embora, na verdade, tenha sido apenas um prelúdio para Last Chance to See. Adorei a floresta e os lêmures e o calor das pessoas.

Qual a estrutura feita pelo homem que você considera a mais interessante da galáxia?

A barragem que estão construindo em Três Gargantas no Yangtse. Embora talvez “desconcertante” seja uma palavra mais adequada. Represas quase nunca fazem o que foram planejadas para fazer, no entanto causam uma devastação além do imaginável. Mesmo assim continuamos construindo-as, e não consigo entender o porquê. Estou convencido de que se voltássemos bastante na história da espécie humana, acharíamos alguns genes de castor se desenvolvendo lá em algum lugar. É a única explicação que faz sentido.

Já esteve lá?

Nunca mais voltei ao Yangtse desde que as construções começaram. Espero nunca ver aquela coisa.

E a estrutura natural mais interessante?

Um peixe gigante de três quilômetros de comprimento na órbita de Júpiter, de acordo com uma matéria confiável da Weekly World News. A fotografia era bastante convincente e me surpreende que jornais mais respeitáveis como o New Scientist, ou até mesmo o The Sun, não tenham apresentado mais detalhes. Deveriam nos informar.

Se você tivesse que dizer o nome de um local que “parece que acabou de cair do espaço sideral”, em qual lugar você pensaria?

Fjorland, nas Ilhas do Sul, na Nova Zelândia. Um impossível aglomerado de montanhas, cachoeiras, lagos e gelo – o lugar mais extraordinário que já vi.

Se você pudesse ir para qualquer lugar do universo agora, para onde iria, como chegaria lá e quem e o que levaria com você?

A nível local, creio que Europa, uma das 16 luas de Júpiter. É um dos corpos celestes mais misteriosos do sistema solar, muito adorado por escritores de ficção científica, pois é um dos poucos lugares que poderiam possivelmente sustentar vida de alguma espécie, e há certas estranhezas na sua estrutura que tem levado à especulações malucas sobre ela ser artificial. Além disso, em noites em que o alinhamento orbital está perfeito, deve se ter uma ótima visão do peixe.


Entrevista conduzida por Claire Smith,
Virgin Net Limited, 22 de setembro de 1999.

Pensamento

Cheguei a um conjunto de regras que descreve nossas reações em relação à tecnologia.

1. Qualquer coisa que já está no mundo quando você nasce é normal e comum e é apenas uma parte natural do modo como o mundo funciona.

2. Qualquer coisa inventada entre seus quinze e trinta e cinco anos de idade é nova, empolgante e revolucionária e você pode, provavelmente, construir sua carreira com ela.

3. Qualquer coisa inventada depois dos seus trinta e cinco anos vai de encontro à ordem natural das coisas.

Palestra

Biscoitos


Isso realmente aconteceu com uma pessoa de verdade, e no caso esta pessoa era eu. Eu tinha ido pegar o trem. Era abril de 1976, em Cambridge, no Reino Unido. Eu estava adiantado para a saída do trem. Tinha anotado o horário de saída errado. Fui comprar um jornal para fazer as palavras cruzadas, uma xícara de café e um pacote de biscoitos. Fui e me sentei à mesa. Quero que você imagine a cena. É extremamente importante que você entenda muito bem a situação. Aqui está a mesa, o jornal, a xícara de café, o pacote de biscoitos. Há um rapaz sentado do outro lado da mesa à minha frente, um rapaz de aparência bem comum, vestindo um terno, carregando uma maleta. Não parecia que ele ia fazer alguma coisa estranha. Eis o que ele fez: de repente ele se curvou para frente, pegou o pacote de biscoitos, abriu a embalagem, pegou um, e comeu.

Eis agora, preciso dizer, o tipo de coisa com a qual os britânicos têm muita dificuldade de lidar. Não existe nada em nosso histórico, criação, educação, que nos ensine como lidar com alguém que, em plena luz do dia, acabou de roubar seus biscoitos. Sabe o que aconteceria se fosse no Centro-Sul de Los Angeles? Haveria, muito rapidamente, tiroteio, helicópteros surgindo, a CNN, sabe como é... Mas no final eu fiz o que qualquer típico britânico faria: ignorei o fato. Então dei uma olhada no jornal, tomei uns goles de café, tentei resolver umas cruzadinhas no jornal, sem sucesso, e então pensei: O que vou fazer?

Por fim, pensei: Nada, terei que aceitar a situação, e me esforcei para não notar o fato de que o pacote estava, misteriosamente, aberto. Peguei um biscoito para mim. Pensei, Isso vai intimidá-lo. Mas não. Um segundo ou dois depois ele fez de novo. Pegou outro biscoito. Não ter comentado nada na primeira vez fez com que tocar no assunto agora fosse ainda mais difícil. Com licença, mas não pude deixar de notar que... Tipo, não dá.

Acabamos com o pacote assim. Quando digo todo o pacote, quero dizer que havia apenas uns oito biscoitos, mas que pareceram uma vida toda. Ele pegava um, eu pegava outro, ele mais um, eu outro. Finalmente, quando terminamos, ele se levantou e foi embora. Bem, trocamos olhares significativos, então ele foi embora, e eu respirei aliviado e me recostei.

Pouco depois o trem estava chegando, então engoli o resto do café, me levantei, recolhi o jornal, e embaixo do jornal estavam os biscoitos. O que mais gosto nessa história é a sensação de que em algum lugar da Inglaterra, há um rapaz comum que, pelos últimos vinte anos, tem andado por aí com exatamente a mesma história, só que ele não tem o remate.


Trecho de uma palestra para Embedded Systems, 2001.

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