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The Meaning of Liff* ganhou vida como um exercício de inglês que
tive de fazer na escola e que então, quinze anos mais tarde, fora transformado
numa brincadeira por John Lloyd e eu. Estávamos sentados com alguns amigos em
um restaurante grego, brincando de criar charadas e bebendo retsina a tarde
toda, até que fora preciso achar um passatempo que não exigisse que
levantássemos muitas vezes.
Era simplesmente o seguinte (precisava ser simples, a
tarde já se entendia bastante para regras complicadas): alguém diria o nome de
uma cidade e uma outra pessoa diria o que a palavra significava. Era necessário
que a pessoa tivesse estado lá.
Rapidamente descobrimos que havia um número
terrivelmente grande de experiências, ideias e situações que todos sabíamos e
reconhecíamos, mas que nunca antes haviam sido propriamente identificadas
porque não existiam palavras para elas. Eram todas do tipo “Já esteve em uma
situação em que...”, ou “Sabe aquela sensação que se tem quando...”, ou então
“Cara, sempre pensei que isso só acontecesse comigo...”. O que é preciso na
verdade é uma palavra, e a coisa é assim identificada.
Então, aquela sensação vagamente desconfortável que se
tem quando se senta em um banco que ainda está quentinho por conta do traseiro
de alguém é uma sensação tão real quanto aquela que se sente quando um elefante
brincalhão gigante sai do meio de um arbusto e lhe ataca, mas que até então
apenas a última tinha uma palavra para tal. Agora ambas têm verbetes. A
primeira é “shoeburyness”, e a segunda é, claramente, “medo”.
Começamos a coletar cada vez mais dessas palavras e
conceitos, e começamos a perceber quão arbitrário é o trabalho seletivo do Oxford
English Dictionary. Este simplesmente não reconhece imensos fragmentos de
experiência humana. Como, por exemplo, quando ficamos parados na cozinha
tentando lembrar porque fomos até lá. Todo mundo faz isso, mas como não há – ou
havia – uma palavra para tal, todos acham que é algo que apenas eles fazem e
que, por conseguinte, são mais estúpidos dos que as demais pessoas. É reconfortante
perceber que todo mundo é tão estúpido quanto você e que tudo que estamos
fazendo quando ficamos parados na cozinha imaginado o porquê de termos ido até
lá é simplesmente “woking”.
Gradualmente, pequenos montes de fichas com esses
verbetes começaram a crescer dentro da última gaveta de John Lloyd, e qualquer
pessoa que ouvisse sobre esses acrescentaria seus próprios conceitos.
Elas viram a luz do dia pela primeira vez quando John
Lloyd estava organizando o calendário Not 1982, e estava empenhado na
procura por coisas para colocar no rodapé das páginas (e também nos cabeçalhos
e algumas nos meios). Ele revirou a gaveta, escolheu mais ou menos uma dúzia
dos melhores verbetes e os inseriu no livro intitulado Oxtail English
Dictionary. Rapidamente tornou-se um dos exemplares mais populares do Not
1982, e o sucesso da idéia nessa escala pequena sugeriu a possibilidade
de um livro dedicado a isso – e eis o livro: The Mening of Liff, o
produto de um trabalho duro de uma vida inteira estudando e relatando o
comportamento humano.
De Pan Promotion 54,
Outubro de 1983.
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